Nascido no sítio Santa Rita, zona rural de Currais Novos, Estado do Rio Grande do Norte, no dia 18 de setembro de 1936, ele se notabilizou por ter fundado a Cortez Editora, em 1980. Além de editar, Cortez também escrevia, e lançou no ano passado “Tempos de Isolamento”, livro de memórias e reflexões sobre sua vida. Mesmo radicado há décadas no Sudeste, nunca deixou de visitar sua terra de origem.
A trajetória de Cortez explica muito sua visão aguçada, política, e
cheia de foco na educação. A vida árida no sertão o fez pensar logo em outras
possibilidades. Aos 17 anos se mudou para Natal, e em seguida foi servir a
Marinha no Rio de Janeiro, onde ficou até 1964. Foi expulso por questões
políticas. Se mudou para São Paulo e recomeçou tudo do zero. Em 1966 conseguiu
entrar no curso de Economia da PUC-SP. Foi quando sua vida mudou completamente.
A Livraria Cortez foi aberta em 1968, anos antes da editora. Na PUC, ele
morava ao lado de uma editora de livros acadêmicos, e aproveitou para revender
algumas obras para seus colegas de classe. A venda de livros rendeu tão bem,
que ele logo passou a se dedicar integralmente a isso. “Meu nome ficou
conhecido na universidade, passei a ser procurado por estudantes e professores.
Até que em 1968, fundei a livraria Cortez”, declarou ele à TRIBUNA DO NORTE, em
uma entrevista de 2018.
SEMEADOR DE LIVROS
A trajetória de livreiro até editor se deu de forma intuitiva. Cortez
contou que foi aprendendo na prática, abraçando as oportunidades que surgiam.
“Por exemplo, eu tinha um contato que me permitia trazer para o país livros
proibidos pela Ditadura Militar. As pessoas me viam com confiança, principalmente
os professores”, disse. A Cortez Editora foi aberta em 1980. As primeiras
publicações foram de teses de mestrado e doutorado, nas áreas de educação e
serviço social. Em sua maioria, de abordagens que divergiam do sistema da
época.
Até hoje a editora mantém a linha progressista. É um perfil do qual
Cortez não abdicou. “Sempre buscamos debater as grandes questões nacionais”,
declarou. Pela editora saíram livros de nomes como Paulo Freire, Florestan
Fernandes e Maurício Tragtenberg. Em 2004, o editor resolve diversificar seu
catálogo e passa a publicar também livros de literatura infantil e
juvenil.
As mudanças no mercado livreiro também foram sentidas pelo veterano. A
livraria da família foi fechada em 2016, ficando apenas a editora. Segundo ele,
não havia condições de sobreviver num mercado tão especulativo, com domínio das
grandes redes que pedem descontos exorbitantes. “Há uma anomalia no mercado
livreiro, e isso existe em detrimento da cultura nacional. Educação é
prioridade para o crescimento de qualquer pessoa. Livro não é custo. É
investimento”, afirmou.
O trabalho e a trajetória renderam a Cortez o título de cidadão
paulistano, conquistado em 2009, no mesmo ano em que foi tema do documentário
“O semeador de livros”, de Wagner Bezerra. Em 2016, também foi declarado
cidadão natalense. A Câmara Brasileira do Livro (CBL), da qual Cortez foi
diretor entre 1999 e 2003, lembrou de seu legado em nota oficial: “Seu comprometimento
e legado levaram ideias potentes às prateleiras de livrarias do Brasil inteiro.
Ideias essas fundamentais para a formação de nossa nação, e luta pelas
desigualdades sociais em nosso país”.
Faleceu no dia 24 de setembro de 2021, aos 84 anos de
idade, na sua casa em São Paulo
FONTE – TRIBUNA DO NORTE